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Rio Grande reforça ações de prevenção ao HIV e ISTs em formação para agentes de saúde
09/10/2025
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Com índices historicamente elevados de infecção pelo vírus HIV — entre os mais altos do Rio Grande do Sul e do país — o município do Rio Grande segue ampliando suas estratégias de prevenção e informação à comunidade. Nesta quinta-feira (9) à tarde, a Secretaria de Município da Saúde (SMS), por meio do Programa Municipal IST/HIV/Aids, promoveu uma formação voltada à primeira turma de agentes comunitários de saúde (ACS), no Salão Nobre Deputado Carlos Santos. Evento semelhante com uma nova turma de agentes está agendado para o próximo dia 23, no mesmo local e com temática idêntica a de hoje: ética, sigilo, uso das profilaxias Pré-Exposição (PreEP) e Pós-Exposição (PEP).
O encontro teve como foco o fortalecimento das políticas públicas de enfrentamento às infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e a atualização dos profissionais sobre métodos preventivos disponíveis na rede municipal, como a PrEP e a PEP, além do incentivo à testagem regular e ao combate ao estigma. Abordagens sobre ética médica no acompanhamento de pacientes com diagnóstico para HIV positivo, foi outro de vários temas da formação.
Avanços e desafios locais
Uma das palestrantes foi a médica Jussara Silveira, referência no tema e uma das principais incentivadoras das políticas de prevenção ao HIV no Rio Grande. Doutora em Infectologia, ela destacou que o município ainda enfrenta desafios importantes no controle da epidemia. “O Rio Grande apresenta números altos de infecção, e isso está relacionado a vários fatores, entre eles o subtipo do vírus HIV mais comum na região, o subtipo C, que se transmite mais por via heterossexual e pode permanecer por muitos anos sem sintomas. Isso faz com que pessoas não diagnosticadas sigam transmitindo o vírus sem saber”, explicou a médica.
A profissional ressaltou que o município está ampliando a oferta da PrEP em todas as 41 unidades básicas de saúde (UBSs), o que representa um avanço significativo nas estratégias de prevenção.
“Esperamos que, com a expansão da PrEP, possamos mudar o curso da epidemia. Cidades como São Paulo já registram redução dos casos com o uso dessa estratégia”, afirmou. “Para cada novo diagnóstico de HIV, precisamos ter três pessoas em uso de PrEP — esse é o parâmetro para controlar a epidemia.”
Entre os dados apresentados pela médica, um se destaca: Rio Grande tem 42,4 casos/100 mil habitantes, conforme o Boletim Epidemiológico HIV e Aids 2024. Os dados são os mais recentes. É o maior número, se comparado com o Rio Grande do Sul (24,4 casos/100 mil) e com o Brasil (17,8 casos/100 mil). Os números de 2024 tomam como base o levantamento feito em 2023, quando foram notificados 46.495 casos de infecção pelo HIV em todo o país, sendo 78,8% de homens e 21,2% de mulheres. A grande maioria eram pessoas pretas ou pardas (61,7%) e 38,1% eram homens que faziam sexo com homens (HSH).
Jussara também reforçou a importância da testagem regular. Desde 2016, o Conselho Federal de Medicina recomenda que os exames para HIV, hepatites B e C e sífilis sejam oferecidos a toda a população.
“Qualquer pessoa pode solicitar o teste nas unidades de saúde. É um exame rápido, feito com uma gota de sangue na ponta do dedo, e o resultado sai em cerca de 15 minutos”, destacou. “Hoje o HIV é uma doença crônica, com tratamento simples e eficaz. Quem se trata pode ter uma vida longa e saudável”, afirmou a médica.
Métodos preventivos e informação
A enfermeira Joyce Simionato Vettorello, do Serviço de Atenção Especializada (SAE/Furg), apresentou informações sobre a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), medicação que impede a infecção pelo HIV em pessoas que ainda não têm o vírus, mas estão expostas a situações de risco. Ela salienta que a PrEP protege contra o HIV, mas não contra outras ISTs. Por isso, “o uso do preservativo continua sendo fundamental”, explicou. “Rio Grande ocupa o 25º lugar no ranking nacional de exposição ao HIV, o que reforça a necessidade de maior divulgação e de enfrentamento ao estigma.”
Ela destacou que não existem grupos de risco, mas sim situações de risco, e que a prevenção deve ser entendida como um cuidado coletivo e permanente. Salientou que o preconceito ainda é um grande obstáculo. “Precisamos falar sobre prevenção com naturalidade e garantir acesso à informação de qualidade”, completou.
A importância da PEP e da comunicação
Encerrando a programação, a enfermeira Tatiane Alonso Arrieche, da Infectologia do Hospital Universitário da Furg, abordou a Profilaxia Pós-Exposição (PEP), um método indicado para pessoas que tiveram contato recente com o vírus. “A PEP é uma estratégia fundamental e pouco conhecida. Ela pode evitar a infecção se iniciada até 72 horas após a exposição”, explicou. “Precisamos ampliar a comunicação e a informação sobre essas formas de prevenção. As pessoas precisam saber que existem caminhos seguros e acessíveis para se proteger.”
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