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Arte, saúde e cidadania: evento debate atenção integral à população em situação de rua no Rio Grande
19/08/2025
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“Vocês comeram hoje? Sabem quantos moradores de rua não comeram?” — foi com essa provocação que o artista Cid Branco abriu sua apresentação em formato de teatro imersivo, no auditório da Escola do Legislativo da Câmara de Vereadores, na tarde de terça-feira (19). Ex-morador de rua por 15 anos, Cid encontrou na arte a possibilidade de reconstruir sua vida e hoje, aos 56 anos, cursa o sétimo semestre de Teatro na UFPel.
O evento integrou a programação alusiva ao Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua e reuniu profissionais da saúde, gestores públicos e representantes da sociedade civil para refletir sobre políticas de equidade e estratégias de cuidado. Entre as autoridades, destaque para a prefeita Darlene Pereira.
Cid relatou sua trajetória marcada pela vulnerabilidade desde a infância, quando começou a se envolver com algum tipo de droga aos 10 anos, até o encontro transformador com o teatro em 1979. “Na rua, eu apanhava e era chamado de nada. No palco, me diziam que eu era bom. Então eu fiquei”, contou. Para ele, a arte foi mais que uma escolha: “Não é tu que escolhe a arte, é a arte que te escolhe. Ela me buscou e me resgatou.”
Hoje, além das apresentações artísticas, ele se dedica a inspirar outras pessoas em situação de rua a sonharem com novos caminhos: “A pessoa tem que ter esperança, mas também iniciativa. Eu quero ser um exemplo de que é possível sair da rua e buscar outras oportunidades.” E é isso que pretende fazer quando concluir o curso de Teatro. Atualmente, vive com as doações que recebe de suas apresentações artísticas e com os recursos oriundos de programas federais, devido à sua condição de estudante universitário.
Saúde e direitos
A programação contou ainda com palestras do coordenador do Consultório na Rua do município, José Fernando Motta Teixeira, do psicólogo Pedro Borges e do médico Neuton Brum, que apresentaram o trabalho da equipe multiprofissional da Secretaria de Município da Saúde (SMS). O serviço acompanha, de forma contínua, a população em situação de rua no Rio Grande — estimada em cerca de 300 pessoas.
De acordo com os dados do programa, 70% dessa população é branca e o restante é composta por pessoas negras, revelando desigualdades que se somam à exclusão social. “É um número possível de ser enfrentado, desde que o trabalho seja intersetorial e contínuo”, reforçaram os profissionais.
Compromisso institucional
A secretária da Saúde, Juliana Acosta destacou a importância do Consultório na Rua como política de garantia de direitos: “O SUS é universal, mas para enfrentar desigualdades precisamos de equidade. Levar saúde a quem vive nas ruas é assegurar cidadania. Por isso, fortalecemos a equipe com médico, enfermeiro, psicólogo, educadores sociais e técnicos, além de avançar na aquisição de uma unidade móvel.”
Já a prefeita Darlene Pereira ressaltou o desafio e a responsabilidade do poder público diante da realidade local: “Não falamos apenas de números. São 300 seres humanos que precisam ser olhados e respeitados. Nosso compromisso é garantir dignidade, com políticas integradas de saúde, assistência social e defesa civil. É ouvir essas pessoas e construir com elas as soluções.”
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