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Cacica Kaingang relata episódio de violência e destaca importância do diálogo com a sociedade
04/09/2025
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Uma experiência de violência contra as mulheres e à população indígena foi relatada por uma cacica da etnia kaingang, durante a etapa municipal da 13ª Conferência Nacional dos Direitos Humanos, realizada no Salão Nobre Deputado Carlos Santos na sede da Prefeitura do Rio Grande, nesta quarta-feira (4). A cacica Ângela Nunka Ferreira, liderança da aldeia Tanhve, localizada no Cassino, compartilhou um relato marcante sobre episódios de violência vividos por ela, em 2021, na Terra Indígena (TI) Serrinha, localizada no norte do Rio Grande do Sul. A experiência foi apresentada como forma de dar visibilidade à realidade enfrentada pelas comunidades indígenas e reforçar a necessidade de garantir direitos, proteção e respeito às mulheres e povos originários.
Conforme depoimento da cacica, o conflito aconteceu após ela e outros indígenas tentarem entregar alimentos, colchões e cobertores para famílias que haviam sido expulsas do local onde moravam na localidade da Serrinha. De acordo com o relato, o gesto solidário acabou gerando uma situação de violência, quando um grupo armado iniciou disparos contra ela e outros indígenas.
Ela contou que, naquele dia, chegaram cedo ao local. Estavam na beira da estrada, próximos a uma lavoura de trigo, distribuindo alimentos e agasalhos. Havia crianças com frio. De repente, passou um carro pequeno por ela e outros indígenas. Depois de uns minutos, o veículo voltou “com um monte de gente e armas”. Eram não-indígenas. Um deles disse: “mete fogo neles, mete fogo neles”. Ângela lembra que teve que se arrastar no meio de uma lavoura para conseguir sobreviver. Queimaram carros, duas pessoas foram mortas. “Foi um momento muito doloroso”, relatou.
Ângela destacou que encaminhou as denúncias ao Ministério Público, mesmo diante de perseguições. Para ela, esse episódio ilustra as dificuldades enfrentadas pelos povos indígenas diante de conflitos fundiários e das violações que ainda atingem mulheres indígenas.
Atualmente cursando o terceiro semestre de História na Furg, Ângela explica que sua escolha pela área é motivada pelo compromisso em preservar a memória e transmitir às futuras gerações os episódios de resistência e violência vividos pelos povos indígenas. “A história precisa ser contada, para que não seja apagada. Queremos deixar um legado para nossas crianças, para que saibam o que aconteceu e fortaleçam nossa luta”, afirmou.
Única representante da aldeia Tanhve na conferência municipal, a cacica participou das discussões ao lado de lideranças de outras duas aldeias, onde pode reforçar o protagonismo indígena no debate sobre direitos, memória e políticas públicas. Sobre a conferência, Ângela ressaltou a importância do espaço de diálogo com a sociedade rio-grandina e disse ser fundamental estar no evento, pois levava o conhecimento e também aprendia com a comunidade local. “Esse diálogo aproxima, cria possibilidades de projetos conjuntos e garante que as vozes indígenas sejam ouvidas”, afirmou.
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