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Troca de experiências e homenagens marcam a 6ª Mostra de Sementes Crioulas no Rio Grande
07/09/2025
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Pesquisadores, agricultores familiares, guardiões e guardiãs de sementes tradicionais, além de representantes de instituições ligadas ao campo e à pesquisa estiveram no encontro realizado sábado (6), no CTG Rafael Pinto Bandeira, na Vila da Quinta. Adeptos do movimento de diversos municípios da Região Sul do Rio Grande do Sul destacaram a importância da preservação da agrobiodiversidade diante das mudanças climáticas.
Um dos nomes mais celebrados no evento foi o professor e pesquisador aposentado da Embrapa, Irajá Antunes, referência no estudo das sementes crioulas. Homenageado durante a atividade, ele ressaltou a riqueza da diversidade mantida pelos agricultores guardiões. Disse que “a natureza, para que tenha resiliência e capacidade de regeneração, precisa ser variada e quem garante essa diversidade são os agricultores que preservam suas sementes”. O pesquisador argumentou que esse trabalho coletivo mostra a força da união entre diferentes origens, gera alegria e fortalece o vínculo com a terra.
Clima e desafios
O gerente regional da Emater em Pelotas, Ronaldo Maciel trouxe dados preocupantes sobre os impactos climáticos na região nos últimos 21 anos. Ele destacou que, nesse período, ocorreram nove estiagens severas, além de enchentes históricas que geraram prejuízos superiores a R$ 2 bilhões em municípios do entorno da Lagoa dos Patos.
Citou que vivemos eventos extremos em intervalos cada vez menores. “Sejam estiagens, tornados ou enchentes, tudo se intensifica. É assustador”, diz, e necessário que todos façam uma reflexão: “qual a minha contribuição para que possamos reduzir esse crescimento que temos na ocorrência de fenômenos climáticos adversos?” Para ele, os guardiões têm um papel bastante importante e uma preocupação maior. São pessoas que se preocupam em guardar as suas próprias sementes e que possuem uma preocupação maior com o clima. “Quando falamos em fenômenos climáticos adversos, pensamos em preservação. Eles fazem isso como ninguém. Quando tu preserva uma semente, tu está preservando também o teu ambiente.”
A voz das guardiãs
Uma das guardiãs que traz na história da própria família a experiência com sementes crioulas foi Donatília Souza Martins, de 67 anos. Agricultora aposentada e guardiã de sementes “desde que se conhece por gente”, disse que, aos oito anos, já ajudava seus pais a separar esses produtos para plantar. Hoje, mantém mais de 30 variedades, como o milho farináceo e o feijão miúdo, tradição que carrega herdada dos avós. “A agricultura está mais difícil, o clima não ajuda e os jovens não têm ficado no campo. Por isso resistimos, para garantir que essas sementes e essa cultura não desapareçam”, contou.
Donatília também reforçou a importância de resgatar hábitos alimentares mais saudáveis e deixou um recado: “precisamos descascar mais e desembalar menos”. Ela acredita que o alimento das sementes crioulas é nutritivo, colorido e carrega a história dos antepassados.
Mesas de debate e trocas de saberes
Durante a manhã, duas mesas de debate ampliaram as reflexões: “Desafios e soluções da agrobiodiversidade frente às mudanças climáticas”, com o professor Dr. Éder Mayer (FURG) e Ronaldo Maciel (Emater/Pelotas), sob mediação de Camila Baptista; e “Conexões vivas entre comunidades tradicionais, agroecologia e as PANCs (Plantas Alimentícias não-Convencionais)”, com a participação da professora Dra. Jaqueline Durigon (FURG/São Lourenço do Sul), do produtor agroecológico Nilo Schiavon e da cacica Talcira Gomes, da aldeia Parà Rokê, mediada pelo guardião Irajá Antunes.
Reconhecimento
A mostra também foi marcada por homenagens a apoiadores históricos da pauta das sementes crioulas. O deputado federal Alexandre Lindenmeyer (PT/RS) recebeu uma cesta de alimentos em agradecimento ao incentivo dado ao movimento ao longo de há 10 anos. Em agradecimento, disse que “vocês fazem a diferença, pois garantem a soberania alimentar”.
Foram igualmente homenageados Cledenir Vergara Mendonça, secretário-adjunto de Agricultura e Pecuária do Rio Grande, e o pesquisador Irajá Antunes, que receberam placas em reconhecimento ao trabalho e dedicação à preservação da biodiversidade agrícola.
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