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Workshop mobiliza lideranças e órgãos públicos para retomada da indústria pesqueira do Rio Grande
12/12/2025
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Principal polo pesqueiro do estado gaúcho e um dos maiores do país, o município do Rio Grande foi palco do “1º Workshop sobre a retomada da indústria pesqueira no Rio Grande do Sul”. Com as discussões sendo realizadas no Salão Nobre Deputado Carlos Santos, na sede do Executivo Municipal, o encontro reuniu importantes autoridades ligadas ao setor, tanto a nível local, estadual e federal, lideranças de pescadores e do setor industrial. Entre as lideranças políticas envolvidas com o setor pesqueiro local, estavam a própria prefeita Darlene Pereira, vereadores do ramos da pesca, e os deputados Alexandre Lindenmeyer - federal - e Zé Nunes - estadual, ambos do PT.
Os debates iniciaram pela manhã e encerraram no final da tarde desta sexta-feira (12). No final dos debates, foi concluído que há um forte interesse do setor público para a retomada do crescimento do setor. Também foi citado que é necessária a recuperação dos mercados perdidos e a ampliação de outros. Além disso, foi citado o mercado institucional, que existe via Conab por meio da alimentação escolar, e precisa ser mais observado. A necessidade de exploração de espécies “novas”, com novos projetos e o incentivo ao consumo de pescado e a retomada dos acordos com Uruguai e a Argentina foram outras alternativas apresentadas no workshop.
Um dos destaques da programação foi a palestra do professor de Economia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Márcio Nora Barbosa, que apresentou dados atualizados sobre o Boletim da Pesca Industrial Marinha desembarcada no Município. Conforme o professor, o volume atual de aproximadamente 27 mil toneladas desembarcadas, anualmente, precisa ser analisado dentro da estrutura produtiva existente. Para ele, embora esse quantitativo seja compatível com a capacidade atual da indústria local, não é suficiente para promover uma mudança estrutural no setor, que enfrenta um processo de declínio há décadas.
Márcio Nora ressaltou que o principal desafio não está apenas no aumento da quantidade produzida, mas sobretudo na qualificação do pescado e na agregação de valor. Conforme explicou, a maior parte do pescado desembarcado em Rio Grande é comercializada praticamente in natura, com pouco processamento industrial, o que limita a geração de receita e a competitividade do setor. Ele destacou que espécies como a corvina seguem sendo predominantes, tanto no mercado interno quanto nas exportações, reforçando a necessidade de estratégias que permitam maior diversificação de produtos e mercados.
O professor também chamou atenção para o perfil exportador do Rio Grande, que destina cerca de 30% da produção ao mercado externo, percentual significativamente superior à média nacional. Para Márcio Nora, esse dado demonstra um potencial estratégico importante, que pode ser ampliado a partir de investimentos em tecnologia, pesquisa de mercado e desenvolvimento de produtos com maior valor agregado, como alimentos processados e industrializados. Ele ponderou, no entanto, que esse avanço depende da capacidade do parque fabril local de absorver novos investimentos e acessar linhas de financiamento adequadas.
Outro ponto abordado foi a possibilidade de fortalecimento do mercado interno, com a produção local de itens hoje importados de outros estados, como empanados e produtos prontos para consumo. Disse o economista que essa estratégia pode reduzir custos logísticos e, a médio prazo, resultar inclusive em preços mais acessíveis ao consumidor local, além de estimular a economia regional.
Forte tradição pesqueira
A abertura do workshop contou com a participação da prefeita Darlene Pereira. Ela destacou o esforço da administração municipal em resgatar a tradição pesqueira de Rio Grande, por meio da integração entre poder público, setor produtivo e governo federal. A prefeita ressaltou a importância do diálogo para a construção de políticas públicas que atendam tanto a pesca artesanal quanto a industrial, fortalecendo toda a cadeia produtiva.
Representando o Ministério da Pesca e Aquicultura, o diretor do Departamento da Indústria do Pescado, José Luis Vargas afirmou que o objetivo do encontro foi ouvir os diferentes atores do setor e identificar caminhos para a formulação de políticas públicas efetivas. Ele lembrou que o Rio Grande já foi um dos maiores polos pesqueiros do país e que a recuperação dessa atividade exige um esforço conjunto e contínuo.
A superintendente federal de Pesca e Aquicultura, Ana Spinelli destacou que o workshop integra uma estratégia de diagnóstico e planejamento da cadeia produtiva do pescado, reunindo academia, setor produtivo e órgãos governamentais. Para ela, o fortalecimento do setor depende do apoio institucional e de incentivos capazes de reativar o potencial industrial do Rio Grande.
Também participou do evento o superintendente regional da Conab no Rio Grande do Sul, Glauto Lisboa Melo. Ele apresentou as possibilidades de inserção do pescado nos programas de aquisição de alimentos. Ele explicou que a lógica da Conab prioriza a produção e a distribuição local, desde que haja entidades e redes socioassistenciais devidamente cadastradas, apontando a necessidade de ampliar o diálogo interinstitucional para viabilizar esse processo em Rio Grande.
História do declínio da indústria
Durante a programação, o professor aposentado da Furg, Manoel Haimovici, abordou o histórico do declínio da indústria pesqueira no município, destacando fatores como mudanças nos padrões de consumo, a valorização do peixe fresco e a migração de indústrias para Santa Catarina, que hoje concentra maior capacidade tecnológica e proximidade com os grandes mercados consumidores.
O workshop também abriu espaço para iniciativas do setor privado. O empresário Mauro Lee apresentou projetos voltados à diversificação da produção, com foco em métodos de captura seletiva, sustentabilidade ambiental e aproveitamento de subprodutos de alto valor agregado. Ele destacou o potencial de espécies pouco exploradas na região e a necessidade de licenças e investimentos para viabilizar novos empreendimentos, capazes de gerar empregos e fortalecer a economia local. O empresário já possui pedidos, junto aos ministérios da Pesca e Aquicultura e do Meio Ambiente (MMA), para diversificar a captura de outras espécies, inicialmente, a sapateira e o pargo.
Mauro Lee, atua há mais de 15 anos no município do Rio Grande, e já se considera um brasileiro, pois está no país há 50 anos. Ele pretende desenvolver e implementar métodos de captura seletivas e de baixo impacto ambiental; quer promover a sustentabilidade ambiental da inovação tecnológica e em conformidade com as leis, em todas as etapas produtivas, fazendo o aproveitamento da indústria pesqueira para a produção de quitosana e outros subprodutos de valor agregado. Lee alega que tem estudos e pesquisas de que as espécies que pretende capturar são pouco exploradas na região e que existem em grandes quantidades em Rio Grande e São José do Norte, referindo-se ao pargo e à sapateira. Mas quer investir em outras espécies, como a enguia, o caramujo e o siri azul. Todos são produtos "tipo exportação", argumenta.
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