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Terreiro promove debate sobre saúde da população negra e saberes tradicionais
29/10/2025
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A Casa de Oxum Taladê, da ialorixá Mãe Graça de Oxum, sediou um encontro que reuniu especialistas, religiosos e integrantes da comunidade para discutir a saúde da população negra, o papel das benzedeiras e o poder curativo das ervas e plantas medicinais. A atividade realizada na terça-feira (28) à noite integrou a programação da Semana Municipal contra a Intolerância Religiosa, promovida por essa casa em parceria com a Prefeitura do Rio Grande, instituições de matriz africana e outras entidades locais. A semana permanece com programação até sexta-feira (31). Confira abaixo.
O evento no terreiro da idealizadora da semana municipal foi um pedido da própria sacerdotisa, a fim de fortalecer o local como um espaço de aprendizado e de troca de saberes. Participaram do debate a técnica de Enfermagem e filha de santo, Eliane Menezes, que abordou o tema da saúde da população negra, e o babalorixá Milton Pucinelli, que destacou a ancestralidade e a importância da sabedoria popular transmitida pelas benzedeiras e pelo uso de plantas medicinais. O encontro contou ainda com a presença de Chendler Siqueira, coordenador de Políticas Públicas para Promoção da Igualdade Racial e presidente do Conselho dos Povos de Terreiro no Rio Grande, que reapresentou o projeto Caminhos Negros, voltado ao mapeamento da história e das referências da população afrodescendente no Município.
Durante sua manifestação, Eliane Menezes ressaltou que os terreiros são espaços de resistência e promoção da saúde. “Falar sobre saúde da população negra nesses ambientes é também multiplicar conhecimento e fortalecer o cuidado coletivo”, afirmou. A profissional lembrou que o Rio Grande conta com um centro de referência para anemia falciforme e outras doenças prevalentes na população negra, localizado no Hospital Universitário, e defendeu a ampliação dos serviços específicos para esse público. Ela destacou ainda que práticas tradicionais, como o uso de ervas, defumações e chás, são formas de promoção da saúde e valorização cultural. “Esses saberes populares fortalecem a nossa identidade afro e promovem o bem-viver, uma forma de estar no mundo que integra corpo, mente, natureza e espiritualidade”, completou.
Onde estão as benzedeiras
Já o babalorixá Milton Pucinelli, também historiador e produtor cultural, destacou o papel histórico e o legado das benzedeiras e o valor simbólico e prático das ervas medicinais no cuidado com o corpo e o espírito. Disse que essas mulheres foram durante gerações as principais guardiãs dos saberes de cura e da espiritualidade afro-brasileira. “As benzedeiras são as verdadeiras sacerdotisas do nosso povo. Elas conheciam o poder das ervas, dos chás, dos banhos, do toque e da palavra. Elas curavam com fé, com sabedoria e com a força da ancestralidade”, afirmou.
Pucinelli lembrou que, embora o número de benzedeiras tenha diminuído, elas continuam existindo, ainda que menos visíveis socialmente. “Elas não desapareceram. Estão nos quintais, nas comunidades, nas lembranças das nossas avós.” O que mudou, afirma, foi o reconhecimento. O historiador disse que houve um tempo em que sabíamos onde cada benzedeira morava, e hoje muitas foram relegadas ao esquecimento. Isso é resultado de um processo histórico de desvalorização dos saberes populares e da tentativa de afastar o povo de suas raízes, destacou.
O historiador também enfatizou que o resgate da ancestralidade é uma forma de resistência cultural e que não podemos perder a memória dessas mulheres, pois foram elas que garantiram a sobrevivência de gerações inteiras quando não havia acesso à medicina formal. “Elas eram o posto de saúde das comunidades, o remédio e o alívio das dores do povo. Resgatar suas histórias é preservar nossa própria identidade”, completou.
Para Pucinelli, as práticas de cura tradicionais não se opõem à medicina científica, mas a complementam. “O chá, o banho e a reza têm o seu lugar. Eles atuam na alma e na mente, enquanto os medicamentos atuam no corpo”, mas salienta que é necessário haver o respeito pela sabedoria ancestral.
Programação
A Semana contra a Intolerância Religiosa prossegue até sexta-feira (31). Confira a programação.
29/10 – Casa Oxum Taladê
18h – As religiões como parceiras no enfrentamento à epidemia do HIV
19h – No Terreiro Também se Aprende: Saberes Ancestrais da Educação – Núcleo de Educação Étnico-Racial
20h – Coleção Batuque | Objetos sagrados aprisionados na Alemanha
Exposição da biblioteca Vó Donga – Coletivo Meninas d’Oyá
30/10 – Largo Barbosa Coelho
18h – DJ MDbeats
19h – Capoeira Mestre Saci | Associação de Capoeira Zumbi dos Palmares
20h – Grupo Kimbra
21h – Projeto Samba do Terreiro
Exposição: Associação Casa de Artesanato dos Povos de Matriz Africana
31/10 – Encerramento
C.C Caboclas Jurema Guarani e Mata e Três Estrelas da Marola – Rua Hermínio de Moraes, 123 – Bernadeth
20h – 2ª Roda de conversa sobre Patrimônio Material e Imaterial | Projeto Memórias do Terreiro
Casa Oxum
21h – Xirê aos Orixás (Celebração Afroreligiosa)
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